domingo, junho 26, 2005
terça-feira, junho 14, 2005
Verão
Foto de Ana Mafalda Oliveira
Dou por mim no café, à noite, numa esplanada animada com a musica de um karaoke propicía para as vozes mais desinibidas do momento.
A pele ainda arde, avermelhada do sol de piscina que fiz questão de apanhar hoje.
A noite está como eu mais gosto, quente. O próprio vento faz questão de acalorar os nossos corpos. Ouço a minha consciência, acompanhada pelos contornos da musica que não faço questão de seguir. A magia do verão pauta o momento... Sigo com o olhar as mesas cheias de gente e noto desde logo a alegria por estarem de férias, coincidente com as gargalhadas imponentes dos homens que ali estão. Numa das mesas encontra-se um grupo de raparigas, bem dispostas como indicava o momento. O olhar parece querer fixar-se numa... Por momentos a musica torna-se mais ténue e sem significado no meu pensamento, acompanhando o cruzamento dos nossos olhares. Aguentei apenas três segundos até desviar o olhar. No entanto, o tempo para voltar a olhar para ela não foi menor...e a cumplicidade sentia-a como se estivesse ali, no bater cada vez mais rapido do meu coração. As conversas com os meus amigos serviam agora de pretexto para a minha suposta indiferença quando me apercebia do seu olhar e o mesmo se passava com ela. O próximo olhar não se adivinhava nada dificil e o cruzamento esse, já se previa. Até que de repente ela se levanta e convida as amigas para dançar. Uma clara provocação? Ou será apenas puro egocentrismo da minha parte? Talvez um pouco de ambos... Eu, limitei-me a segui-las com o olhar. Os que estavam comigo já suspiravam pela festa que se fazia ouvir do outro lado da vila, e foi aí que eu lhes disse para ficarmos mais um pouco com o pretexto de ainda ser cedo e que haveriam de estar la poucas pessoas àquela hora. Mas a minha vontade infelizmente não os convenceu por muito tempo. Findada a ultima música do karaoke, e com os clientes do café a pedirem para o gerente não se importar com o barulho pois era dia de festa e tinha que se comemorar, saímos do café em direcção à mesma, não sem antes uma ultima troca de olhares. O meu pensamento neste momento centrava-se unicamente no que se tinha passado à pouco, e o meu desejo profundo era que elas também fossem à festa, afinal era o mais provável de acontecer. À chegada do recinto, avançámos para a zona das bebidas, que se fazia valer de uma banca quase tão grande como o comprimento de todo o espaço festivo, e por ali ficámos, cada um com a sua bebida. Com o speaker da quermesse a anunciar a banda que se aproximava do palco, "furámos" entre a multidão na procura de um lugar melhor para assistir ao concerto. Foi então que dei de caras com ela novo... Passámos a milimetros um do outro, suficientemente perto para sentir o cheiro do seu corpo. Fiz questão de ficar num sitio onde nos pudéssemos olhar...cara a cara, a noite inteira. E assim foi...Ao ritmo das covers suberbamente tocadas pela banda que ali se fazia reconhecer. Após o fim do concerto já eram poucos os que restavam por ali... E pouco tempo depois o mesmo se iria passar comigo após as insistências no sentido de voltarmos para casa. Voltei, com a esperança de no dia seguinte a encontrar de novo, ainda que aquele fosse o ultimo dia da festa.
No dia seguinte, a rotina habitual de um dia de férias. Levantámo-nos para comer um almoço ligeiro de modo a podermos ir à àgua sem ter de esperar pelo fim da digestão, apanhámos as toalhas estendidas na corda ainda molhadas do dia anterior e seguimos para a piscina a pé, sob um calor abrasador tipíco do mês de Agosto.
No caminho, recordava com um sorriso parvo a olhar para o chão o que tinha acontecido na noite anterior, do princípio ao fim. O meu desejo era encontrá-la de novo, sem dúvida, para poder sentir aquilo tudo de novo, a sensação de não ter palavras para descrever o que sentia era optimo. Chegámos à piscina, mas não havia sequer sinal de tamanha beleza. Esperei pacientemente na esperança de que ela chegaria. Entre as idas à àgua e o queimar do sol na toalha o tempo ia passando, até que chegaram as 6 horas. Já nós nos vestiamos para o regresso a casa, quando vislumbro uma amiga que a acompanhava na noite anterior. O meu corpo deu uma resposta imediata, como se estivesse a pressentir a sua presença, e não estava enganado. Do outro lado do separador que separa a piscina da relva os seus olhos já comunicavam com os meus, e enquanto ela entrava para a piscina, eu fazia o caminho inverso.
O sorriso parvo voltara à minha cara, mas desta vez era produto de um misto de "eu sabia que ela vinha" com um "tinha que chegar só agora".
No caminho para casa, refugiei-me nos headphones que sempre me trouxeram as mais belas recordações, que naquele momento eram apenas, e ao mesmo tempo tão representativos olhares, ao som da voz de Chino Moreno. Nessa tarde, tinha ficado decidido que à noite iríamos ao cinema, e foi num banco do enorme jardim, que ficámos a fazer tempo para a hora do filme.
Foi então a ultima vez que a vi, ao longe... sozinha... a caminhar...até desaparecer do meu raio de visão...Foi então que percebi... O Verão estava a acabar.
Sandro