quarta-feira, dezembro 28, 2005

A Noite na despedida...



Dedicado a Henry Chinasky e ao seu Criador.

Este é um texto de ficção e não pretende retratar uma pessoa ou conjunto de pessoas vivas ou mortas.

Hoje apenas vi a claridade do dia durante duas horas... Levantei-me às 4h, e às 6h já era noite. A cerveja assola-me o pensamento... e a primeira coisa que fiz quando me levantei foi ir ao frigorifico para abrir uma lata. Sinto-me um eremita, pensei. É optimo...
Liguei a tv para ver se encontrava alguma coisa com que me entreter, mas em vão...
Pensei então em ler um livro, mas a escolha era escassa e a maior parte dos autores desinteressantes. Ocorreu-me ir à net para ver se havia alguma mulher susceptivel de ser engatada naquele preciso momento... Preciso de mais alcoól, pensei.
Não demorou muito até acabar o pack de 6 latas que me restava... Estava outra vez bêbado, mas não me importava nada com isso. O alcoól ajudava-me imenso com as mulheres...pelo menos era esta a ideia que eu tinha.
Cansado da luz do computador fui para o sofá. Pus os headphones e aproveitei para abrir a garrafa de whisky de segunda que tinha no mini-bar. Bebi meia garrafa... Até adormecer.

Acordei de manha com o telefone a tocar... Era Bruna do outro lado.
«Sim?», disse eu.
«Hugo és tu?»
«Claro, quem haveria de ser? Ligaste para a minha casa...»
«Estás com uma voz péssima...»
«Estou de ressaca. Espero que tenhas um bom motivo para me acordar a esta hora.»
«São 10h da manhã. Acordei te?»
«Diz lá o que queres...»
«É so pa dizer que amanha tenho o dia livre... podemos ir beber uns copos juntos... Isto claro se o Sr.Hugo não se importar...»
«Ok. Podes passar por aqui amanha... Depois logo vemos o que fazemos.»
«Até manha então...» e desligou.

Bruna era uma mulher com longos cabelos escuros, escorridos pelo rosto. Era mais baixa que as mulheres a que eu estava habituado... mas tinha algo de especial que me cativava... Talvez fossem os seus olhos verdes, muito expressivos... ou a sua cintura bastante fina...enfim, o que importava era que ela me punha louco.
Nesse dia passei pelo supermercado para me abastecer de bebidas e alguns petiscos. Quando estava a chegar a casa reparei que tinha alguém à minha porta. Era silvino, um amigo de longa data que já não via há anos...
«Entao Hugo, como é que estás?»
«Velho e porco», respondi.
«Já vi que não mudaste... Os velhos hábitos continuam os mesmos.»
«Sou velho demais para mudanças. Entra.» disse eu.

Passámos o dia a beber e a relembrar os nossos tempos de adolescencia. As mulheres com quem tinhamos dormido, os carros roubados... tudo servia de desculpa para um tema conversa sem dúvida interessante mas ameaçadoramente repetitivo.
Já sem nada para contar, parámos de falar e dedicámo-nos apenas e exclusivamente à bebida enquanto nos preparávamos para assistir ao grande jogo da época no conforto do meu sofá velho desgastado pelo tempo e pelas noites intensas que eu havia passado nele. Abri outra garrafa.

Findado o jogo, Silvino levantou-se do sofá em direcção à porta...
«Gostei de te ver Hugo...»
«Eu também Silvino. Eu também... Aparece mais vezes.»
«Podes contar com isso!», disse ele antes de sair.

Nessa noite, sob o efeito do whisky que tinhamos bebido ainda fui escrever umas páginas do meu romance...Era assim que gostava de trabalhar... Bêbado e sem ninguém para me chatear... Apenas eu, o whisky e o meu computador.

No dia seguinte, era meio dia quando acordei com alguém a bater na porta.
«Hugo!»
Abri a porta. «Nao podias vir mais tarde?»
«Por amor de Deus! Já viste que horas são? Estiveste outra vez a beber?»
«Não sei fazer outra coisa.»
«Toma um banho... Tresandas a alcoól»
«Queres vir comigo?», perguntei.
«Onde?»
«Tomar banho...»
«Já tomei!»
«Tomas outra vez... Aproveitas e...»
«E... o quê?»
«Depois vês... Anda.»

Despimo-nos e entrámos no banho com a àgua a ferver.
Depois do banho fomos para o meu quarto e deitámo-nos os dois na minha cama... Eu sequei-me antes de entrar mas Bruna não.
«Vais ficar assim? Molhada?»
«Porquê? Não gostas?», respondeu.
«Adoro... Anda cá...», e demos um beijo.

Ficámos juntos toda a noite... No outro dia acordei com o corpo todo dorido.
«Já não tens idade para estas coisas Hugo», disse para mim mesmo.
Fui à casa de banho. Lavei a cara, os dentes e vesti-me. Quando regressei ao quarto já Bruna estava vestida.
«Tás com pressa para ir a algum lado?», perguntei.
«Tou. Vamos...», disse ela enquanto agarrou na minha mão.

Peguei no carro e pedi-lhe que me dissesse onde queria ir. Ela indicou-me o caminho e seguimos.
Bruna levou-nos para um local onde eu nunca tinha estado, pelo menos sóbrio, disso tinha a certeza.
Era um parque enorme com vista para o mar.
«Tenho fome, vou buscar alguma coisa para comer. Queres que te traga alguma coisa?», perguntou-me.
«Sim, qualquer coisa que se coma e cerveja.»
«Maldito velho!», gritou.

O sitio era calmo. Conseguia-se ouvir o barulho da àgua com uma perfeição incrivel... Olhei para trás e vi Bruna a chegar com as coisas.
«Toma, comprei-te uma sandes de galinha, espero que gostes.»
«E a cerveja?»
«Se queres alcoól vais buscá-lo.»

Levantei-me irritado, em direcção à roulote que estava na entrada do parque, precisamente no lado oposto do local onde nos encontrávamos. Pedi três cervejas e fiz o caminho inverso.
Quando estava a chegar ao pé de Bruna parei, e fiquei ali a olhar para ela... Era linda demais para um velho como eu. Sabia que a ia perder e que mais tarde iria escrever sobre ela... Era um pouco lamechas, mas inevitável.
Quando cheguei, Bruna disse apenas «Fotografa-me.»
Abri uma lata, dei um trago... Bruna virou a cabeça e olhou para o horizonte...
Era a noite na despedida...